METAMORFOSES
As colagens começaram como estudos no caderno, foram as páginas do sketchbook seu primeiro habitat e me ajudavam a pensar a pintura, avaliar seus caminhos a partir do olhar para a composição que os recortes formavam e no momento no qual os separo para criar uma paleta como se fosse trabalhar com a tinta. Numa conversa de atelier, um artista amigo me disse, "mas isso já é trabalho." Foi curioso como precisei escutar essa voz de fora para pensar a colagem além de um processo para construção da pintura. Talvez não totalmente fora, pois, o pensamento pictórico permaneceu quando a colagem passou a ser um fim e não mais passagem.
A ideia que tinha de colagem me aproximava da ideia de ruínas. Pensava em imagens retiradas de seus contextos originais, agrupadas, criando, assim, um outro contexto ou imagem, como ruínas de diferentes tempos que se acumulam no mesmo espaço e criam um novo tempo. Com esta experiência é ligeiramente diferente, o trabalho se inicia com o olhar, vejo revistas já selecionando textura e cores, imaginando quais formas tirar daquelas páginas. Então, segue o trabalho da montagem, quase um cinema, a figura vai se formando a partir daquela primeira escolha que recorto das revistas de moda. Não creio que se trate de uma imagem abstrata, mas de uma figuração não reconhecível, há um recorte mental feito nesse processo que retira possíveis semelhanças da figura que vai se formar. Ela não é uma representação de algo do mundo, mas um contexto espacial que se insere no mundo.
Essas colagens são camadas de recortes que formam essas figuras, são restos que recriam uma imagem. Ruínas transmutadas em alicerces para algo novo. E que venha a reinvenção ou reconfiguração diante do que temos vivido.