Diário
Vídeos do processo do trabalho "Diário", no qual "apaguei" uma edição do diário de Katherine Mansfield com fitas corretoras de máquina de escrever. Provocando mais um deslocamento do texto que um apagamento propriamente dito. Este trabalho faz parte de uma série que desenvolvi sobre questões ligadas à minha pesquisa sobre uma ideia de esquecimento que, ao apagar, inscreve.
Em todo lugar, menos aqui.
Espaços vazios que deixam marcas. Há um respiro ali, um silêncio. E é possível escutá-lo. Escutar os vazios da cidade. Este trabalho parte da observação das paredes de edificações que permanecem de pé após a derrubada de sua construção vizinha.
Uma arquitetura destruída e abandonada, estamos no mesmo plano, nós e os restos urbanos. Nessas edificações derrubadas, há um processo de subtração, como se algo fosse arrancado da pele deixando uma marca. Ou como uma ideia esquecida que deixa vestígios no pensamento.
O esquecimento escreve com marcas produzias através da impressão de um corpo sobre outro. Impressão em seu sentido mais literal: a imagem que um corpo imprime sobre outro e que é vista quando resta apenas um dos corpos. Permanece o resto, a marca do toque. A pele marcada pelo que foi arrancado, esquecido.
Aphanés
Pentimento
Desaparecidos
Em uma parede branca é projetada uma sequência de fotografias de rostos. Essas fotografias estão em preto e branco e com as cores invertidas, ou seja negativadas, o que na fotografia aparece preto é branco e vice versa. Cada foto fica exposta por um minuto, após esse minuto, a imagem some e resta apenas a tela branca. Até outra imagem, outro rosto, surgir e assim por diante. Quando um deles em negativo some, através de um processo de “pós imagem” o espectador vê um vulto do rosto como estaria na foto revelada. Esse “vulto” não está na tela, é produzido pelo próprio espectador.
Nosso corpo é seu suporte. Esta é uma operação que se dá no corpo, mas é externalizada. O corpo, juntamente com a visão, sustenta e produz algo fora de si. E esse algo vem a ser aquilo que retorna. Aquilo que foi por nossa lei, por nossos arcontes recalcado: os desaparecidos, os arquivos sobre aqueles que foram presos e cujas histórias não se sabe o fim. Esse retorno é também inscrição: aquelas figuras se inscreveram em nós. Como se inscreveram, na memória do país, os anos de terror de um regime autoritário. Embora se diga: aqui é o país onde se esquece, esse esquecido retorna, ronda como um fantasma, enquanto muitos seguem desaparecendo.